titanic - de james cameron

...choradeira coletiva, histeria na porta dos cinemas, aplausos antes, durante e depois das sessões, a mesma pessoa voltando ao cinema duas, três, dez, vinte (!) vezes para ver o filme, bancas e lojas tomadas por produtos e coleções da produção, rádios tocando ininterruptamente 'my heart will go on'... nesses últimos quatorze anos, desde a estréia de 'titanic' nos cinemas, eu não me recordo de nada nem parecido com o sucesso que a produção de james cameron alcançou... perto do sucesso do casal jack e rose, harry potter, o trio bella-edward-jacob, ou sei lá quem mais, são praticamente anônimos... além de tudo o filme que quebrou todos os recordes de bilheteria, faturou 11 oscars, 4 globos de ouro e até 4 grammys, é realmente bom... a direção e a técnica são primorosas, o elenco é indiscutivelmente talentoso e a história é envolvente... até nos seus momentos mais bregas, o filme parece ter feito as escolhas certas...  enfim, é um prazer rever com a grandiosidade que o só o cinema pode garantir esse clássico do cinema hollywoodiano. 

raul o início, o fim e o meio - de walter carvalho

...acredito que todos os estudantes de comunicação aprendem desde o primeiro dia de aula que para se contar uma história é (com raras exceções) indispensável ouvir pelo menos uma pessoa... da mais simples reportagem ('não existe reportagem sem personagem!', exclamava uma querida professora), ao mais complexo documentário: uma história ganhará credibilidade, veracidade e emoção se for contada por meio do testemunho de outras pessoas... e foi isso que fez o premiado diretor de fotografia walter carvalho em 'raul - o início, o fim e o meio'... para contar a história do nosso maluco beleza, walter carvalho foi atrás de familiares, ex-esposas, filhos, amigos, jornalistas, músicos, motoqueiros, rockeiros, satanistas, hippies, fãs, sósias e quem mais que tinha o que falar... é nesse mosaico de opiniões e versões que o mito raul é construído... o belo documentário só peca quando dramatiza alguns episódios (a empregada no elevador) e no constrangedor mergulho de uma produtora no parque lage... nessas horas a música fica de lado e da até vontade de gritar: 'toca rauuuul!'.

o porto - de aki kaurismäki

...abbas kiarostami, michael haneke, ken loach, jean pierre e luc dardenne, nanni moretti, emir kusturica, aki kaurismäki, entre outros, são alguns dos 'darlings' dos festivais de cinema mundo afora... toda vez que sai a 'listinha' de cannes, de berlim ou de veneza, por exemplo, lá estão todos eles concorrendo ao prêmio máximo... e eu não estou questinando a qualidade de nenhum deles (na verdade estou sim), mas a verdade é que ninguém acerta sempre... kaurismäki mesmo, foi um pouquinho mais feliz com 'o homem sem passado', 'juha' e 'la vie de bohème' (todos com longa carreira em festivais) do que com 'o porto'... mesmo assim, com este filme, estava em cannes e foi premiado (!)... sinceramente, não da para acreditar... é forçado falar que desta vez o cineasta finlandes fez um bom trabalho... a encenação é teatral demais, o elenco está estranhamente artificial e, o pior de tudo, o longa simplesmente não leva a lugar nenhum... e tem uma galerinha por aí (fazendo carão de inteligente), organizando debates sobre imigração nas sessões pós-filme... ah não, não mesmo (!).

jogos vorazes - de gary ross

...'até onde podemos ir sem que a classificação indicativa exclua uma parte do nosso público potencial?', o grande dilema de produtores e cineastas... porque quanto maior for a idade permitida para ir ao cinema sem a presença do papai e da mamãe, menor será a faixa de público que aquele filme compreenderá... por isso mesmo produtores se desdobram para tornar o que seria violento na teoria, quase fofo na prática... um exemplo recente dessa manobra foi com a série 'as crônicas de nárnia', que de tão mal resolvida acabou cancelada... outro exemplo, só que um pouco mais feliz, é o filme em questão: 'jogos vorazes', que apesar da sinopse violenta, se utilizou de um ou outro truque para ser impróprio apenas para menores de 14 anos... com fortes referências a obra '1984' de orwell, o filme baseado no livro de suzanne collins, é um misto-quente de 'big brother', 'project runway', 'no limite', 'gladiador' e um concurso de miss... o resultado um tanto brega esteticamente é o suficiente para angariar fãs, e ainda, fazer fortuna nas bilheterias... afinal, não era esse o objetivo?

tão forte e tão perto - de stephen daldry

...o novo longa do cineasta inglês stephen daldry, de quem sou fã assumido, é o último dos nove indicados ao oscar de melhor filme desse ano a ser comentado aqui no blog... de cara posso falar que não é nem de longe o seu melhor trabalho... daldry já chegou perto da perfeição com os inesquecíveis 'billy elliot' e 'as horas', mas desta vez deu uma forçada na barra... apesar de ser muito superior ao terrível 'cavalo de guerra', outro indicado a categoria principal, o longa 'tão forte e tão perto' seguiu a mesma linha super manipuladora do filme do spielberg... talvez por algumas escolhas duvidosas do diretor e ou talvez pelo 11 de setembro servir como pano de fundo da trama... enfim, mas a produção tem as suas qualidades também... principalmente os desempenhos comoventes do iniciante thomas horn e do veterano max von sydow... agora uma coisa divertida é conversar sobre o filme em uma rodinha de amigos: 'tão longe e tão forte', 'tão fraco e tão distante' ou 'tão forte e tão longe', por algum motivo qualquer, ninguém (ninguém) acerta o título do longa... eu principalmente (!).

a mulher de preto - de james watkins

...mark hamill e carrie fischer (quem?) interpretaram dois dos mais emblemáticos personagens da história do cinema... na série 'star wars', viveram respectivamente luke skywalker e princesa leia, mas logo em seguida caíram em uma mortal armadilha hollywoodiana: ambos ficaram para sempre presos a imagem dos seus personagens... ciente disso (?), o ator daniel radcliffe, está tentando a todo custo sair da sombra de harry potter, personagem que viveu em oito produções entre 2001 e 2011... mas qual é o segredo para escapar da tal armadilha? principalmente participar de novos filmes, diversificar os gêneros e quem sabe até viver outros personagens marcantes no cinema... o que definitivamente não aconteceu no confuso 'a mulher de preto'... porque para o público não pensar naquele bruxinho mala toda vez que o ator surgir em cena, daniel radcliffe irá precisar de muito (muito!) mais do que apenas estrelar filmes mixurucas como este... para o tempo, o público e hollywood serem generosos com o rapaz é necessário que ele comece a escolher melhor os seus novos trabalhos.

billi pig - de josé eduardo belmonte

...quem lê o blog com frequência sabe que um mistério rondava este espaço há um tempo (mais exatamente há quatorze comentários): afinal aonde estavam os filmes ruins?... mas não são os longas com um outro problema, estou falando daqueles que fazem a gente repensar a necessidade do cinema continuar existindo... acontece que um dia desses, em uma calorenta tarde de março, o mistério foi resolvido... 'billi pig', de josé eduardo belmonte, não marca apenas o retorno do filme ruim ao blog, é forte candidato a pior longa nacional da década... meu deus do céu (!) é tudo ruim... tem ex-bbb que pensa que é atriz, porco falante, espíritos, preta gil, momentos musicais constrangedores, macumba, arlindo cruz, aquele ar de revival da porno chanchada e até a estatueta do oscar... tudo apresentado sem nenhuma explicação ou preocupação com a lógica e com o público... por que selton mello topou o papel? e o que levou o diretor do excelente 'se nada mais der certo' a fazer esse lixo?... torci para acabar a sessão e agora estou tentando esquecer com todas as minhas forças.

o homem que mudou o jogo - de bennett miller

...por mais difundida que seja a tv a cabo e a internet nos dias de hoje, catcher, pitcher, first baseman, strikeout, innings, line-up e home run ainda nem sonham em fazer parte do vocabulário esportivo da maioria da nossa população... talvez por isso mesmo, a sony pictures estava, digamos, receosa em lançar um filme tendo o mundo do beisebol como pano de fundo nos cinemas do país do futebol... mas basta prestigiar a produção na sala de cinema mais próxima para você atestar que 'o homem que mudou o jogo', é um longa de fácil e forte identificação até mesmo para aqueles que desconhecem por completo o popular esporte made in usa... a direção de bennett miller (com dois longas no currículo e ambos indicados ao oscar de melhor filme), o roteiro da dupla steven zaillian (oscar de roteiro adaptado por 'a lista de schindler', 1994) e aaron sorkin (oscar de roteiro adaptado por 'a rede social', 2011) e as atuações de brad pitt, jonah hill e philip seymour hoffman, fizeram com que eu vibrasse como um torcedor fanático pelo filme... o resultado é realmente imperdível.

a invenção de hugo cabret - de martin scorsese

...esse ano deu empate no oscar: 'o artista' (filme, diretor - michel hazanavicius, ator - jean dujardin, trilha sonora original e figurino) e 'a invenção de hugo cabret' (direção de arte, fotografia, edição de som, mixagem de som e efeitos visuais) saíram da festa com cinco estatuetas cada um... a diferença é que os prêmios considerados principais foram para um e os técnicos para o outro... a semelhança é que ambos são as mais belas homenagens que o cinema poderia receber... enquanto o filme do francês michel hazanavicius escolheu por uma completa recriação do formato do cinema da década de 20 (sem som, preto e branco e com proporção de tela de 1,33:1), martin scorsese se utilizou do que a de mais moderno no cinema contemporâneo para homenagear a obra de george méliès, um dos precursores da sétima arte... e marty, claro, fez isso com a excelência e genialidade de sempre... se existisse um oscar para melhor sequência, a mágica reconstituição das filmagens de 'viagem à lua', receberia merecidamente a sexta estatueta para essa obra-prima.

j. edgar - de clint eastwood

...o que é o mais importante em um filme? a direção, o elenco, o roteiro ou a técnica?... a prova de que o ideal é o equilíbrio entre tudo isso que eu falei e mais um pouco é o longa 'j.edgar'... de que adiantou ter clint eastwood na direção (para mim um dos maiores cineastas de todos os tempos), um elenco de prestígio liderado por ninguém menos do que leonardo di caprio (o melhor ator de sua geração), um roteiro assinado por dustin lance black (uma promessa premiado com o oscar de melhor roteiro original por 'milk a voz da igualdade') e uma direção de arte bem bacana (que reconstrói a época com grande competência), se o patético trabalho de maquiagem tornou o filme (quase) risível?... sério mesmo, quem achou que estava bom?... porque por mais recursos que leonardo di caprio dispõe como ator, eu não consegui acreditar em nenhum momento do seu personagem quando este já estava mais velho... e a maquiagem no ator armie hammer? é melhor deixar para lá... como um bom filme se faz nos detalhes, nem é preciso falar que o resultado ficou longe do ideal.

a dama de ferro - de phyllida lloyd

...vou fazer minhas as palavras de um famoso crítico de cinema: 'meryl streep sempre esteve bem, mas desta vez ela humilhou! as outras concorrentes não tem nem chance'... gente, sem exageros, é isso mesmo... vamos lá: ao longo da carreira meryl streep já foi indicada 17 vezes ao oscar (recordista entre atores e atrizes), venceu duas, fora outras 25 indicações ao globo de ouro, venceu oito, ou seja, sempre esteve bem... e apesar de desempenhos memoráveis em dezenas de filmes como 'a escolha de sofia', 'as pontes de madison', 'kramer vs. kramer', entre muitos outros, desta vez, a atriz não deixou dúvidas de sua capacidade (mas alguém tinha alguma?)... na pele de margaret thatcher, em 'a dama de ferro', me arrisco a dizer que meryl streep apresentou a melhor atuação de sua inquestionável carreira, ou seja, humilhou... se justiça for feita na cerimônia do dia 26 de fevereiro, viola davis, michelle williams, rooney mara e glenn close, vão ter que fazer 'carão', quando meryl, aos sessenta e dois anos, subir ao palco para receber a estatueta por mais uma vez.

o artista - de michel hazanavicius

...como uma produção francesa, sem som e em preto e branco (!), se tornou a sensação da temporada de prêmios faturando três globos de ouro, sete baftas, o prêmio do sindicato dos produtores, quatro prêmios no critics choice awards e de quebra, dez indicações ao oscar 2012?... gente, sem teorizar muito, o filme é bom e ponto... mas vocês querem uma teoria para esse sucesso? então, 'o artista', vem conquistando tudo e mais um pouco porque é uma das mais belas homenagens que me recordo de já ter visto em uma sala de cinema, para ninguém menos do que o próprio cinema... para retratar as mudanças provocadas na indústria cinematográfica com o advento do som (tema abordado também em 'crepúsculo dos deuses' e 'cantando na chuva'), o diretor michel hazanavicius, teve a excepcional oportunidade de contar com o desempenho reluzante do ator jean dujardin (premiado no bafta, globo de ouro, sindicato dos atores, festival de cannes e favorito ao oscar)... a produção é a prova de que a magia do cinema independe (!) de qualquer estardalhaço tecnológico.

a fonte das mulheres - de radu mihaileanu

...o mundo como conhecemos (ou conhecíamos?) está em estado de ebulição... manifestações no oriente médio e no norte da áfrica (a onda revolucionária da 'primavera árabe'), guerra civil em diversos países e protestos que alertam para a iminente queda do sistema capitalista evidenciada pela crise nas economias do chamado 'primeiro mundo' (movimento simbolizado pelo 'occupy wall street')... por insatisfação e vontade de mudança, cada um reage como quer ou como pode?... no filme do cinesta romeno radu mihaileanu (dos inesquecíveis 'trem da vida' e 'o concerto'), um grupo de mulheres insatisfeitas lideram uma greve de sexo contra os seus homens escorados em tradições políticas, sociais e até religiosas... cada um reage como pode... o fascinante é a maneira como a produção multinacional baseada na comédia grega 'lisístrata' de aristófanes, se apresenta em uma espécie de fábula musical revolucionária... o resultado é verdadeiro, poético, emocionante, trágico, belo e repleto de esperança (!)... é o cinema em sua mais bela forma... é de arrepiar.

o espião que sabia demais - de tomas alfredson

...eu sei que nós acabamos de falar sobre uma injustiça, mas vamos ser justos: entre o mar de esquecimentos e equívocos cometidos habitualmente pela academia há uma grande justiça no oscar 2012... já sabem qual é?... ao contrário do que fez o globo de ouro, o sindicato dos atores e alguns outros prêmios por aí, o oscar dessa vez não fez que não viu e indicou, com um extremo merecimento, o ator gary oldman... e é uma indicação que vai muito além de 'o espião que sabia demais'... está sendo reconhecido a carreira de um dos mais versáteis e talentosos atores do cinema... só para se ter uma idéia, gary oldman já viveu sid vicious, ludwig van beethoven e o conde drácula... pois é minha gente, e no filme em questão é o ator que lidera, com o talento de sempre, o meticuloso e imperdível longa do diretor sueco tomas alfredson (do já cult 'deixa ela entrar' de 2008)... a injustiça (é claro que tem uma!), ficou por conta da ausência da produção entre os indicados ao oscar de melhor filme... pelo menos aqui no blog, dificilmente ficará fora do top 10 de 2012.

precisamos falar sobre o kevin - de lynne ramsay

...vamos começar a falar das injustiças do oscar 2012?... claro que não vou abordar todas ainda, como sempre são muitas, neste momento vou falar apenas da que considero, até agora, a maior delas... como diabos foi possível elaborar a lista das indicadas a melhor atriz este ano sem constar o nome de tilda swinton?... apesar do alto nível de performance das concorrentes, o nome da vencedora do oscar de melhor atriz coadjuvante em 2008 por 'conduta de risco', tinha que estar lá (!)... tilda swinton que já tinha brilhado no ano passado com o apaixonante drama italiano 'um sonho de amor' (que também foi ignorado pela academia, sendo lembrado apenas na categoria 'melhor figurino'), desta vez elevou o seu talento a milésima potência... o desempenho de tilda swinton em 'precisamos falar sobre o kevin', é avassalador... graças também as escolhas da diretora lynne ramsay, que para adaptar a obra da escritora lionel shriver, optou por uma estrutura em recortes fundamental para a composição da personagem... o longa denunciado nos detalhes é desconcertante (!).

histórias cruzadas - de tate taylor

...a história do racismo na década de sessenta nos eua foi dura, violenta, revoltante e vergonhosa... mas quem disse que esse período não pode ser retratado no cinema com extrema leveza, simplicidade e até um certo bom humor?... pelo menos foi assim que fez o mais-ator-do-que-diretor tate taylor... e pelo visto, agradou né?... além de ter permanecido em primeiro lugar nas bilheterias norte-americanas por três semanas consecutivas, a produção ainda foi indicada a quase todos os prêmios da temporada, entre eles, o oscar... e o que eu achei do longa? uma dramédia cheia de boas intenções e grandes atuações (apesar da badalação em torno de viola davis e octavia spencer, o elenco todo está impecável) mas que escolhe permanecer no raso na maior parte do tempo... e eu acredito que em alguns momentos um mergulho mais profundo traria sim mais impacto a determinadas seqüências e talvez por isso o filme não tenha me deixado plenamente convencido... enfim, o resultado até arranca uma ou outra lágrima e provoca reflexões, porém, sem ser muito depressivo ou complexo.

millennium os homens que não amavam as mulheres - de david fincher

...para quem não sabe eu detestei 'a rede social'... é eu sei que a produção fez um puta sucesso, ganhou um montão de prêmios e quase todo mundo gostou, mas eu achei uma chatice... o triste é que se tratava de um filme do david fincher, que eu sempre admirei muito... e aí eu fiquei naquela dúvida: será que existe vida além do 'face'?... o espetacular 'millennium os homens que não amavam as mulheres', foi a melhor resposta possível... desde a sombria abertura ao som de 'immigrant song', clássico do led zeppelin, na voz de karen-o (por sinal, a trilha sonora da dupla atticus ross e trent reznor é de comprar o cd), o diretor de 'seven', 'clube da luta', 'zodíaco' e outros, deixou claro que dessa vez era para valer... e foi mesmo... simplesmente não há o que criticar na adapatação do best-seller 'millennium', que já tinha originado uma versão 'made in sweden' para os cinemas (super competente também)... toda a parte técnica é primorosa, o elenco está em grande forma (o que falar de rooney mara?) e david fincher conduz os 158 minutos do filme com maestria.

os descendentes - de alexander payne

...não, eu não vou falar do george clooney... vamos falar um pouquinho sobre o alexander constantine papadopoulos, ou simplesmente, alexander payne... com filmes que ora cambaleiam para a comédia, ora para o drama e sempre com narrativas bem pausadas e reflexivas, alexander payne conquistou o público, a crítica e a academia dirigindo, produzindo e escrevendo trabalhos bem particulares... a prova é de que mesmo com poucos longas no currículo já soma seis indicações ao oscar, sagrando-se vencedor uma vez na categoria roteiro adaptado por 'sideways entre umas e outras'... em 'os descendentes', payne não inventou e ou inovou, fez mais um filme com todas as suas marcas registradas e ainda assim recebeu três indicações ao oscar: filme, diretor e roteiro adaptado... a explicação? a simplicidade com que o diretor aborda os temas de fácil identificação com emoção e bom humor... sem falar que aqui ele contou com um inspirado george clooney (acabei falando nele) e com a jovem shailene woodley... e a trilha sonora ainda é ótima... o resultado é irresistível.

tomboy - de céline sciamma

...existe algo mais egoísta do que o preconceito, a intolerância e a violência diante de um determinado tipo de comportamento? acredito que não... mas você já parou para pensar que talvez sejam esses os motivos que levem uma pessoa a viver uma vida de mentira?... não com o medo de ser o que se é de fato, mas com o medo de não ser o que a sociedade quer que você seja... em 'tomboy', não foi diferente e a solução encontrada por alguém de apenas dez anos, diante de uma sociedade contaminada por todas as formas de preconceito, foi viver uma dessas mentiras... para os novos amigos, laure se apresentou como mickael... assim, brincou, jogou bola, nadou, arranjou uma namoradinha e, principalmente, foi feliz e se viu livre de todos os julgamentos (até que a mentira veio à tona e todos reagiram como o de costume)... protagonizado de forma brilhante por zoé héran, o longa demonstra de maneira singela que as pessoas são o que são e ponto... mas enfim, é provável que a nossa sociedade egoísta e hipócrita nunca aceite isso né?!... mas fica a mensagem.

2 coelhos - de afonso poyart

...o que tem de sobra no cinema nacional? violência, pobreza, corrupção e até, quem diria, espiritismo... e o que falta? iniciativa, ousadia, inovação e técnica... por isso mesmo, se eu cruzasse com o cineasta afonso poyart, iria de cara falar: ''meus parabéns!''... e eu sei que para construir o seu filme de estréia, poyart se apropriou de quase tudo que sobra no nosso cinema, mas os 'parabéns' seriam para o fato de ter feito isso com tudo aquilo que tem de falta... com referências ao universo pop, games, grafismos, música e muito mais, poyart foi aonde ninguém tinha ido até hoje no cinema brasileiro, pelo menos não com tanta qualidade... e '2 coelhos' não se contentou em ser apenas deslumbrante visualmente, o elenco (ótimo, por sinal) e o roteiro (cheio de humor, reflexão, crítica social e regado de diálogos nonsenses) receberam a mesma atenção... é a fórmula mágica do mestre quentin tarantino: aliar forma e conteúdo... o resultado é sim um passo a frente para a realização do cinema no brasil, um sopro de inovação e ousadia... 'parabéns'.

sherlock holmes o jogo de sombras - de guy ritchie

...mesmo que na prática robert downey jr. nunca tenha deixado de fazer filmes, todo mundo está cansado de saber que no final dos anos noventa ele chegou ao fundo do poço na vida pessoal e profissional (para quem não sabe, prisão, violência, posse de drogas e armas, clínicas de reabilitação, divórcio e demissões fizeram parte da rotina do ator naquela época)... mas a partir de 2003, o ator indicado duas vezes ao oscar, começou a praticar o wing chun (uma arte marcial chinesa), que o levou a ter uma vida mais saudável... se foi por isso ou não, daí para frente downey jr. passou a ser o centro das atenções de todas as produções que participa... além disso, passou a viver ninguém menos do que o homem de ferro e o sherlock holmes... e é óbvio que na continuação das aventuras do detetive mais famoso do mundo, a grande atração é: robert downey jr... 'sherlock holmes o jogo de sombras', apesar de ser um pouco inferior ao anterior, diverte e empolga graças ao talento e carisma do ator... no mais, o longa da umas derrapadinhas, mas nada assim que comprometa.

cavalo de guerra - de steven spielberg

...vocês concordam que steven spielberg está entre os maiores diretores e produtores de cinema de todos os tempos, certo? certo!... porém, acredito que a maioria (mesmo você aí que gritou 'certo!') também irá concordar que 'cavalo de guerra', é, infelizmente, lamentável e constrangedor em 99% dos seus 146 minutos de duração... principalmente porque para adaptar o livro 'war horse', que narra a história de uma amizade entre um menino e um cavalo, o vencedor de três oscars assumiu o seu lado mais manipulador, marqueteiro e medíocre possível... o resultado é tão ruim que sobrou para todo mundo... a fotografia de janusz kaminski nunca me pareceu tão artificial, a música de john williams por vezes só falta falar 'está na hora de você chorar', o roteiro de lee hall e richard curtis provavelmente foi elaborado a partir de um desses manuais de 'faça o seu roteiro em três passos' e a direção de steven spielberg é vergonhosamente didática... sem falar que o jovem protagonista jeremy irvine é muito menos expressivo que o tal do cavalo... um equívoco completo.

tudo pelo poder - de george clooney

...em 2006 todos se referiam a george clooney como 'o homem do oscar'... naquele ano, clooney, chegaria a cerimônia do prêmio com as indicações de diretor e roteiro original por 'boa noite e boa sorte', e ainda, com a de ator coadjuvante por 'syriana a indústria do petróleo', no qual mais tarde subiria ao palco para agradecer a mãe, o pai e outros... hoje, seis anos depois, 'o homem do oscar' é candidato para receber indicações nas categorias filme, diretor e roteiro adaptado, por 'tudo pelo poder', e ator com o ainda inédito 'os descendentes'... surpreendente para os que pensarem em 'plantão médico' e 'batman e robin', nem tanto para os que pensarem no grande diretor, produtor, roteirista e ator que clooney se tornou nos últimos anos... com um elenco que dispensa comentários, george clooney, traça aqui um corajoso, verdadeiro e voraz panorama da corrida presidencial made in usa... com habilidade tece a teia dos bastidores do poder, lugar onde não há espaço para inocência/vacilos... uma produção essencial para compreender a politicagem atual.

compramos um zoológico - de cameron crowe

...certa vez eu (super empolgado) falei exatamente assim para umas pessoas mais próximas: 'quando alguém te convidar para assistir um filme do cameron crowe, não pense duas vezes!'... então, mesmo que você não tenha se identificado como uma daquelas pessoas mais próximas do meu passado, eu tenho que fazer uma pequena observação: 'o tempo passa, o tempo voa e as coisas mudam né'... não que 'compramos um zoológico', seja um desastre completo... se ao final do filme tivesse aparecido nos créditos 'directed by não sei quem', seria até um filme fofo, mas acontece que a produção é dirigida por um dos mais autorais (até então) cineastas de hollywood... responsável, por exemplo, pelos excelentes 'jerry maguire a grande virada' de 1996, e por um dos filmes da minha vida, 'quase famosos' de 2000, quando levou o oscar de melhor roteiro original... por isso é decepcionante... o resultado é de um 'enlatado' sem nem um resquício do cameron crowe que eu recomendava, anteriormente, de olhos fechados... hoje em dia, recomendaria 'pensar duas vezes'.

imortais - de tarsem singh

...tem muita gente em porta de cinema chiando coisas do tipo: 'isso não era assim!', 'aquilo está fora do lugar!'... sinceramente, alguém vai assistir um filme em 3d no cinema de um shopping (!) procurando por uma aula de história?... sem falar que o tal filme é um épico grego-hollywoodiano-dirigido por um indiano... eu, ciente disso, fui assitir 'imortais' super disposto a todos os tipos de incoerências e mutilações históricas e geográficas... se teseu era originalmente um princípe ou um pobretão, como preferiu a produção, isso não me afetou em nada, mas uma coisa eu não aguentei no longa (ah vai, eu já estava tolerante demais), o nível de atuação c - do elenco sarado e bronzeado... com exceção de um inspirado mickey rourke, henry cavill comprometeu como protagonista e a turma do olimpo me fez acreditar que qualquer um pode ser ator... e aí, toda a parte ok do filme, como os figurinos de eiko ishioka (vencedora do oscar por 'drácula de bram stoker'), empolgantes sequências de ação e, mais uma vez, a atuação de mickey rourke, foi visivelmente prejudicada.

missão impossível protocolo fantasma - de brad bird

...como a principal exigência de tom cruise para a realização de um filme da série que produz e protagoniza é o rodízio de diretores, a bem sucedida franquia de 'missão impossível' (que já soma quase 2 bilhões de doláres em bilheterias), chega a marca de quatro filmes com quatro diretores diferentes... e o legal é que apesar de existir uma ligação mínima entre os capítulos, todos apresentam características que os tornam bem diferentes... o primeiro capítulo de 1996, carregava o ar autoral de brian de palma... o segundo de 2000, a ação espalhafatosa de john woo... o terceiro de 2006, a orquestrada tensão de j.j. abrams... e o quarto o humor de brad bird... isso não significa que o diretor de 'os incríveis' e 'ratatouille' tenha deixado de lado toda a ação da franquia... 'missão impossível protocolo fantasma', é cheio de momentos 'ufa!', como a vertiginosa sequência no burj khalifa em dubai... o que eu não entendi foi a atuação do ator michael nyqvist, que parece ter gravado o recente 'sem saída' e o longa em questão, sem saber que eram produções diferentes.

roubo nas alturas - de brett ratner

...qual é a fórmula para transformar um projeto totalmente despretensioso em um filme, digamos, relevante?... pergunte para o diretor brett ratner, que soube associar ação, humor e crítica social na medida certa e no tom exato... com o suporte de um elenco em forma (ben stiller, eddie murphy, alan alda, matthew broderick, casey affleck, michael peña, gabourey sidibe, téa leoni, judd hirsch, todos ótimos) o diretor da trilogia 'a hora do rush', fez ação surpreendente na sequência do assalto na torre, se garantiu no humor fácil de ben stiller e eddie murphy, e ainda deu uma cutucada na recente farra dos engravatados de wall street que deixou o pobre ainda mais pobre... mas brett ratner não veste a camisa do 'occuppy wall street', obviamente, não era esse o objetivo... nem descamba para o besteirol... muito menos para a ação desenfreada que descaracterizaria o projeto por completo... até o desfecho (super!) previsível parece se encaixar perfeitamente ao resultado... foi como eu escrevi anteriormente: na medida certa e no tom exato.