desejo e perigo - de ang lee

...durante a segunda guerra mundial, uma jovem universitária é infiltrada na casa de um chinês colaborador dos japoneses, como parte de um plano de um grupo patriótico para assassiná-lo... uma história de amor, desejo, sangue e com um desfecho trágico, "o segredo de brokeback mountain"? não, "desejo e perigo"... a semelhança entre eles? ambos venceram o leão de ouro no festival de veneza (2005 e 2007), foram dirigidos por um dos mais talentosos cineastas do cinema contemporâneo e contam uma história de amor proibida e improvável... com um atraso de (+ou-) dois anos, o novo filme do premiado diretor (oscar, globo de ouro, bafta, leão de ouro, urso de ouro, entre outros muitos prêmios, constam em seu currículo) finalmente estreou nos cinemas brasileiros... o diretor taiwanês realizou o mais político de seus filmes, desafiando até de certa forma (porque não?) o governo chinês, que não reconhece o seu país de origem... tudo isso em um história bem desenvolvida, atuada e realizada... acredito que o filme poderia até ter acabado uma ou duas cenas antes, tornando o final menos explicado, mas, quem sou eu para discutir com o mestre (!) ang lee.

valsa com bashir - de ari folman

...um repetido sonho faz com um diretor busque seus antigos companheiros de exército para reconstruir suas mémórias sobre a guerra do líbano... uma indicação ao oscar: filme estrangeiro... seleção oficial do festival de cannes 2008, vencedor dos prêmios césar e globo de ouro de melhor filme estrangeiro e primeiro longa de animação a ser indicado ao oscar de melhor filme estrangeiro "valsa com bashir", é impressionante... tanto visualmente, quanto o que tem a contar e como resolveu contar... o longa do diretor israelense ari folman, é um documentário sobre a tentativa do próprio diretor em recuperar as memórias de sua participação na guerra do líbano, entrevistando antigos companheiros do exército israelense... tudo isso em forma de animação... repleto de cenas psicodélicas e delirantes, acompanhados de um trilha sonora fantástica, o filme trata de assuntos pesados, realmente desconfortáveis... ao final a animação, como se essa não pudesse representar a dor, é substituída por algumas cenas reais... um aula de direção e originalidade.

entre os muros da escola - de laurent cantet

...um professor tenta estimular seus alunos em sala de aula, mas enfrenta problemas com a falta de educação, o descaso deles em aprender algo e uma enorme diversidade cultural... uma indicação ao oscar: filme estrangeiro... primeiro filme francês a ganhar a palma de ouro desde 1987, "entre os muros da escola" é um daqueles filmes "aula de sociologia"... o tema em questão é o confronto cultural dentro de um determinado grupo, que poderia ser retrato em um país ou em uma pequena comunidade, porém, esse combate de idéias, tradições e costumes é representado de maneira brilhante em uma sala de aula de um colégio francês... os professores são franceses e os alunos dos mais diversos países do mundo... intolerância e preconceito em um verdadeiro campo de batalha onde tudo é motivo de desentendimento e provocação... cada cena, cada diálogo está carregado de questões e requer um grande tempo de reflexão.

x-men origens: wolverine - de gavin hood

...o filme conta a história de wolverine, do violento e complexo passado do mutante, ao seu envolvimento com o ameaçador programa arma-x... vamos ser sinceros... "x-men origens: wolverine" é o tipo do filme que o comentário padrão ao fim da sessão seria "cara, os efeitos especiais são fod...", mas não foi isso o que aconteceu... bastante descuidado tecnicamente, o comentário geral era "nossa, tal cena ficou muito mal feita" ou "a garra dele foi feita no paint?"... e aí, já viu né... a diversão explosiva e descontraída do longa vai por água abaixo... se até os efeitos são ruins (uma coisa que, vamos combinar, é essencial e esperado em um filme de ação) o que esperar do resto?... nada demais... e nada demais mesmo acontece... o ator hugh jackman (o "cara", atualmente em hollywood) faz de tudo para defender, honrar e salvar a história do seu personagem... voa, grita, pula, bate, apanha, mata e faz careta, mas o gostinho de decepção acaba prevalecendo.

dragonball evolution - de james wong

...um jovem ganha de seu avô uma esfera do dragão ao completar dezoito anos de idade, e a partir disso, uma série de eventos começam a ocorrer com ele... um filme ruim é realmente fascinante e curioso... eu, por exemplo, morro de vontade de acompanhar as gravações de um longa como "dragonball evolution"... algumas curiosidades minhas seriam respondidas... será que de fato não dá para reparar que está ficando tudo muito ruim? ou ainda, será que as pessoas se envolvem com o projeto a tal ponto de perder a noção do ridículo?... no caso da adaptação da história de goku e cia, além de noção, talento, seriedade, vontade e habilidade em todos os sentidos, faltou, principalmente, conhecimento da história na qual o filme foi baseado...está tudo (!) errado e fora do lugar... os personagens, os cenários, a história, a estética escolhida e a abordagem, tudo terrível e equivocado, a ponto de se questionar: será que foi de propósito?... filmes ruins são de fato fascinantes e curiosos.

sinédoque, nova york - de charlie kaufman

...um dramaturgo busca inspiração para uma nova peça de teatro, ao mesmo tempo em que passa por problemas pessoais... roteirista genial de filmes como "brilho eterno de uma mente sem lembranças" (no qual venceu o oscar), "adaptação" e "quero ser john malkovich", charlie kaufman resolveu estrear na direção com o seu último roteiro, "sinédoque, nova york", que é absolutamente incrível... charlie kaufman percebeu que, dessa vez, nenhuma outra pessoa conseguiria transpor para as telas a quantidade de simbolismos, abstrações e idéias presentes no ultra complexo roteiro, e o resultado do filme acabaria não satisfazendo o próprio autor... o mágico e interminável quebra cabeças da vida cotidiana ainda é estrelado pelo sempre fantástico ator philip seymour hoffman, em performance magistral... emocionante, engraçado e triste, assim é essa colagem de idéias, sons e imagens difíceis de se explicar e esquecer... nem um outro filme que assisti nesse ano me deixou tão feliz e satisfeito ao final da sessão, me provando que, sim, o cinema pode ainda ser inteligente e apaixonante.

simplesmente feliz - de mike leigh

...poppy é uma mulher que busca levar a vida sempre observando o lado positivo, o que faz com que em certos momentos seja até mesmo irresponsável... de todas as inúmeras injustiças do oscar, possivelmente, a maior de todas elas está presente no brilhante filme "simplesmente feliz", a não indicação da atriz sally hawkins, até o momento o grande desempenho entre atores e atrizes no ano de 2009... vencedora do globo de ouro e do urso de prata no festival de berlim, a atriz inglesa compõe uma personagem fascinante, ao mesmo tempo hilária e comovente, simplesmente irresistível... as sequências mais engraçadas da temporada cinematográfica também estão presentes no longa... as impagáveis aulas de direção (o instrutor interpretado pelo ator eddie marsan está perfeito) e dança, são realmente hilárias... atuações impecáveis, roteiro inteligente e excelente direção... forte candidato a melhor filme do ano.

a fronteira da alvorada - de philippe garrel

...um homem tenta levar uma vida tranquila e estável, mas a imagem de sua ex retorna para assombrá-lo... o amor ao extremo da obsessão, dependência e loucura... é esse o foco da discussão no novo filme do veterano diretor frânces philippe garrel... apresentado em uma belíssima fotografia em preto e branco, amor, loucura, obsessão, sanidade, emoção, dependência e razão flertam com o sobrenatural, o drama e a tragédia... cheio de reviravoltas emocionais, a relação dos personagens interpretados pelo casal de atores louis garrel (filho do diretor) e laure smet, possui questões que saltam da tela a cada quadro do filme... vaiado pela crítica internacional no festival de cinema de cannes em 2008 "a fronteira da alvorada" não é um filme comum, muito menos fácil de se identificar e está longe de ser simples e convencional... é de fato uma experiência cinematográfica completamente diferente... mas na minha opinião, é um pequeno grande filme.

evocando espíritos - de peter cornwell

...uma família se muda para uma nova casa, sem saber que o local fora usado como um centro de pesquisas de espíritos... sim, meu caro, você assistiu um filme com essa mesma história na semana passada... baseado em uma suposta história real que aconteceu na cidade de connecticut e que também já tinha virado um documentário do discovery channel, "evocando espíritos" (que m... de nome!) é isso, mais do mesmo... porém, pior do que a repetida história de uma família que precisa se mudar por algum motivo e acaba escolhendo uma casa velha, suja e no meio do nada para isso e o elenco amador, é a terrível ambientação de um filme que se diz passar no fim dos anos 80, uma década tão característica e cheia de diferenças com a de hoje... as roupas, os objetos, tudo é atual... em um filme de terror (e em qualquer outro) a ambientação é fundamental para "criar o clima"... saudades de "o iluminado" do mestre stanley kubrick, onde cenários, elenco e roteiro tinham o mesmo peso.

alma perdida - de david s. goyer

...uma jovem que passa a ser atormentada por uma misteriosa visão de um menino, acaba por descobrir que o mesmo possui uma ligação com a sua família... sinceramente o que me levou ao cinema para assistir o filme "alma perdida" foi o nome do excelente ator gary oldman, um dos meus favoritos... mas não que eu tivesse esperanças que o filme fosse bom apenas pela sua presença... na verdade, fui torcer para que ele não tivesse se metido em algo terrível... mas logo de cara deu para ver, infelizmente, o "drácula de bram stroker" tinha entrado em uma roubada... os atuais filmes de terror e suspense são assim: começam bem, no meio já não fazem sentido e no final (se você estiver acordado) percebe-se que o diretor resolveu chutar o balde, avacalhando tudo... falta seriedade, argumentos decentes e talento aos novos longas do gênero... falta originalidade... parece até que a gente assistiu um igual na semana passada.