um homem sério - de joel e ethan coen

...um professor de física decide pedir conselho a três diferentes rabinos diante de tantos problemas pessoais... 'quando se descobre que a verdade é mentira e toda a alegria dentro de você morre, você não quer alguém para amar?'... o clássico de jefferson airplane 'somebody to love', parece resumir o desejo para o caótico momento pessoal que enfrenta o protagonista de 'um homem sério'... a esposa está trocando-o por outro, o filho é rebelde, a filha só 'lava o cabelo' e rouba dinheiro da sua carteira para fazer uma plástica no nariz, seu irmão mais velho dorme no sofá da sala, o emprego está por um fio e um de seus alunos está tentando suborná-lo... tudo isso ganharia outras consequências se o protagonista não fosse um professor de física que acredita que todo o efeito teve antes uma causa e se, principalmente, joel e ethan coen não fossem os diretores da produção realizada com um precisão invejável... premiados até dizer chega, provam (mais uma vez) que são os maiores autores do cinema americano... uma aula de cinema completa, a produção (um tantão) nonsense, embaralha causas e consequências e em diversos momentos parece se resumir na fala de um dos seus personagens, 'por favor, aceite o mistério'... mais um clássico dos irmãos coen.

lembranças - de allen coulter

...tyler roth é um jovem rebelde e distante que não tem uma boa relação com o pai desde que uma tragédia abalou a sua família... robert pattinson!... é impossível ir em uma banca de jornal e não ver o rosto do vampiro estampado em alguma revista adolescente... seja contando as fofocas da sua vida particular, os seus gostos pessoais ou os segredos por trás do seu topete... e provavelmente tentando fugir da armadilha com 'prazo de validade' de ídolo teen ou de um único personagem, o edward da saga crepúsculo vem apostando em dramas pseudo independentes... tentando provar também que é um bom ator... e... bem... eu não tenho nada contra o menino, mas ele não é necessariamente, assim, talentoso... em 'lembranças', apoiado em um bom e numeroso elenco de apoio, robert pattinson continua a apostar no irritante estilo de atuação 'robô com lag'... a produção ainda é prejudicada pelo ritmo arrastado e milhões de cenas de cinco segundos em slow desnecessárias... mas para não falar que nada aqui vale a pena, temos uma determinada sequência que é uma espécie de duelo de geração de canastrões: pierce brosnan x robert pattinson... esse sim, um momento antológico do cinema (?) e digno das principais manchetes.

um sonho possível - de john lee hancock

...michael oher, um jovem negro morador de rua, é ajudado por uma família rica que acredita em seu potencial... existem basicamente duas formas de levar-se para as telonas dramas baseados em fatos reais... ou se opta por uma abordagem crua e rock'n roll dos fatos ao estilo de 'preciosa uma história de esperança' ou então por uma pampers soft touch total confort (com abas!) ao estilo de 'um sonho possível'... preferindo obviamente a primeira opção, não é nem preciso falar que eu não gostei nada do longa que deu o oscar de melhor atriz para sandra bullock... ao contrário da forma como fomos apresentados a história de clarice 'precious' jones, a saga de michael oher (hoje um famoso offensive tackle da nfl) é didaticamente apresentada, arrancando muito mais bocejos do que lágrimas das platéias... início, meio e fim são tão definidos que qualquer envolvimento emocional com a história torna-se impossível... não é nem preciso torcer, o final dará certo e o caminho será sem muitas pedras... mas muito pior do que o oscar ter ido para bullock (que é até boa atriz, simpática e tal), foi o filme ter sido indicado a categoria principal... isso sim é inacreditável.

ilha do medo - de martin scorsese

...um agente federal investiga o desaparecimento de uma assassina que fugiu de um hospital psiquiátrico localizado na remota shutter island... viver pode não ser necessariamente um benefício, principalmente, para os que habitam a galáxia de hollywood... hein?... geralmente a morte traz unanimidade... e viver é conviver com críticas, muitas vezes injustas... se kubrick ou hitchcock estivessem vivos estariam 'tomando' da crítica... mortos tornaram-se os maiores... e martin scorsese (ainda bem) está vivo e lançando um novo filme quase que anualmente e portanto, tendo que ouvir coisas do tipo 'se vendeu para os grandes estúdios', 'não é mais o mesmo' ou ainda (esse, o meu preferido) 'se mudou para o cinemark'... acusações a parte, scorsese é incomparável... pela quarta vez ao lado do seu 'novo robert de niro', o mestre de clássicos como 'taxi driver' e 'os infiltrados', constrói um excelente suspense policial com todos os elementos paranóicos que rondavam o globo durante a década de cinquenta... atacado por parte da crítica 'ilha do medo', será reconhecido (mesmo que com méritos) como um grande filme, mas só quando martin passar dessa para melhor.

coração louco - de scott cooper

...um decadente cantor de música country, conhece uma jovem jornalista por quem acaba se apaixonando... um tal de françois truffaut certa vez profetizou que dois atores salvariam hollywood da mesmice... john travolta e jeff bridges... e se não foi exatamente assim ambos deram a sua colaboração... travolta até anda meio sumidão, mas bridges vive um momento especial em sua carreira... está ganhado todos os prêmios pelo seu grande desempenho em 'coração louco'... venceu o globo de ouro, o prêmio do sindicato dos atores e agora, em sua quinta indicação ao oscar, é favoritíssimo ao prêmio... no bom filme do estreante diretor scott cooper, jeff bridges brilha e é o centro de todas as atenções... um grande trabalho de composição, onde o ator revela-se até mesmo um ótimo cantor... a produção que é um prato cheio para os fãs da música country norte-americana, conta ainda com a simpática maggie gyllenhaal e as participações mais que especiais de colin farrell e robert duvall (que também é um dos produtores do filme)... na noite do dia sete de março quando o envelope (provavelmente) anunciar 'jeff bridges!' estará sendo reconhecido mais do que um único trabalho, e sim, uma grande carreira com muito mais acertos do que erros.

direito de amar - de tom ford

...após a morte de seu companheiro, com quem vivia há dezesseis anos, um professor de inglês que não consegue levar a sua vida adiante, resolve se matar... não se deixe enganar pela embalagem ou pelo visual de propaganda de perfume ou ainda pelo acabamento de um grande desfile da semana de moda de paris... tá certo que na estréia do estilista tom ford como diretor, tudo está em seu perfeito lugar... estratégicamente localizado... móveis, cenários, roupas, tudo é perfeito... mas cair somente no debate sobre o visual do filme é diminuir a sua importância e extrema relevância... o estilista (diretor!) utiliza-se de todo o seu já famoso talento para compor a estranha beleza da tristeza... a trajetória de um agora single man (em grande atuação de colin firth) que passa o filme todo se despedindo de tudo e de todos rumo ao seu suicídio, é na verdade um hino ao direito de amar e de viver... e não é um filme gay... é um longa sobre a dor da perda, da dificuldade de superar o insuperável e de seguir adiante... na sua estréia como diretor, o consagrado estilista e fotógrafo tom ford, lançou um daqueles livros (?) que a gente compra pela capa e se surpreende com o conteúdo.

o segredo dos seus olhos - de juan josé campanella

...um aposentado usa o seu tempo livre para escrever um romance baseado em um acontecimento que vivera anos antes... certa vez ouvi alguém falar (não me recordo se foi um professor, um jornalista ou algum filósofo de plantão) que se a copa do mundo de futebol fosse decidida nos cinemas, os nossos queridos hermanos teriam muito mais títulos do que a gente... não é que o cinema argentino seja assim tão melhor do que o nosso... ele é simplesmente, digamos, mais bem resolvido... enquanto ainda transitamos por exemplares globais, produções independentes que ninguém vê e o cinema pobreza/violência/desgraça tipo exportação, os nossos parceiros do mercosul aparentam estar além disso... realizam um cinema rico, maduro e variado... mas nós também não fazemos isso?... até fazemos, mas (a ancine que me desculpe) não com esse alto nível de qualidade... e a indicação ao oscar de filme estrangeiro para o deslumbrante 'o segredo dos seus olhos' comprova isso... elenco afiado, direção precisa e técnica impecável (atenção especial ao plano sequência no estádio de futebol)... méritos para o roteiro que equilibra drama, comédia, romance, thriller, política e até futebol... um filmaço!

educação - de lone scherfig

...a vida de uma garota adolescente passa por grandes transformações quando ela conhece um homem com quase o dobro de sua idade... retomar a idéia (enterrada desde a década de quarenta) de indicar dez produções ao oscar de melhor filme me parece na verdade um grande afago da academia as pressões dos estúdios e produtores... não são os dez melhores, são os cinco habituais, mais aquele grande sucesso de bilheteria, a animação do ano, o longa favorito do público, a produção que surpreendeu e o melhor filme inglês (ou estrangeiro)... e a minha teoria ganhou ainda mais força quando assisti 'educação'... essa produção inglesa não tem a menor condição de concorrer ao prêmio máximo da noite do dia sete de março... é um filme comum, com um roteiro terrível e óbvio (do cultuado escritor nicky hornby) e ritmo arrastado... os personagens, os dilemas morais, a época retratada e uma possível reviravolta são jogadas no lixo... emma thompson e sally hawkins são desperdiçadas em papéis que poderiam ser interpretados por bonecos do posto (lembram deles?) tamanha é a indiferença de suas participações... o que seria um filme 'ok' feito para a tv, transforma-se em uma bomba que não justifica em nada a sua presença na festa.