a procura de eric - de ken loach

...eric bishop, um carteiro enfrentando diversos problemas pessoais, encontra ajuda quando o seu grande ídolo, o ex-jogador de futebol eric cantona, aparece para te dar conselhos... vencedor da palma de ouro de cannes em 2006 pelo pesado "ventos da liberdade", o diretor ken loach mais uma vez surpreendeu... para contar a história de um decadente carteiro que em suas alucinações passa a ver o ídolo do manchester united, o cineasta abusa do humor e da tragédia em uma verdadeira aula de cinema... beirando o surreal em diversas sequências, o longa faz rir, chorar e refletir... com ótimas atuações, diálogos convicentes e a participação mais do que especial do craque eric cantona, "a procura de eric" até me fez esquecer do fraquíssimo filme anterior de loach, "mundo livre"... a incrível sequência final revela que perto do talento e do que ken loach é capaz de fazer, o artilheiro eric cantona é um verdadeiro perna de pau... realmente muito (!) bom.

julie e julia - de nora ephron

...em busca de uma virada em sua vida, julie powell resolve criar um blog onde escreverá sobre as experiências de realizar sozinha as quinhentas e vinte quatro receitas do livro de julia child... baseado em duas histórias reais... simplesmente uma das melhores atrizes da história do cinema... meryl streep sobra em todos os filmes... carisma, talento, timing para comédia e força dramática... é bem provável que seu nome esteja presente pela décima sexta vez (!) em sua carreira na lista dos indicados ao oscar... e por isso a diretora nora ephron apoia a estrutura do seu filme no talento da atriz... quando a coisa começa a ficar meio cansativa meryl streep, contracenando com o sempre ótimo ator stanley tucci, aparece para roubar a cena... tá certo que amy adams tem o seu valor, a direção de arte e fotografia são competentes e a direção (considerando a carreira de nora ephron que inclui coisas como "mensagem para você" e "a feiticeira") é surpreendente... mas é claro, o melhor ingrediente do filme com todos os méritos é ela... meryl streep.

500 dias com ela - de marc webb

...a história dos quinhentos dias que durou o relacionamento de dois jovens, onde ele se apaixonou e ela não... a simpática comédia romântica indie "500 dias com ela", embalada por uma maravilhosa trilha sonora com the smiths, regina spektor, feist, pixies e outros, se fosse uma produção original do velho continente seria bem diferente... vou explicar... já no ínicio da produção somos alertados de que veremos um filme triste... claro, não é o que acontece... porque diferentemente dos exemplares europeus onde as pessoas acordam descabeladas, as coisas dão errado e tragédias acontecem, em hollywood o mundo é perfeito... anuncia-se um final triste e revela-se um meloso e feliz... talvez por uma questão cultural dos eua, talvez por uma questão de classificação etária e consequentemente perda de venda de ingressos, os relacionamentos lá acabam sem ninguem se xingar, agredir ou sei lá... eles apenas sofrem de forma fofinha... enfim, méritos para a esperta montagem e a forma como o tempo é trabalhado... fofura de mais/tristeza de menos a parte, é legal.

aconteceu em woodstock - de ang lee

...baseado na incrível história real de elliot tiber, responsável direto e indiretamente pela realização do lendário festival de música de woodstock... sabem de uma coisa?... ang lee é o cara... é, e digo isso sem dúvidas... do drama gay ao filme de época, da arte-marcial a comédia e de taiwan a hollywood, o cineasta vencedor de quase todos os prêmios existentes, passeia pelos mais variados gêneros do cinema e diferentes culturas, e não perde a essência... em "aconteceu em woodstock" ao invés de fazer como quase todos fariam, não coloca o revolucionário festival em primeiro plano e sim, a mudança interna de um único personagem em meio a todo caos daquele turbulento período... as atuações de primeira (destaque para a veterana atriz imelda staunton) ainda comprovam o seu talento na direção de atores... ang lee conquistou a crítica, o respeito do público e a sua independência cinematográfica porque fez (e faz!) por merecer.

o solista - de joe wright

...steve lopez, um famoso colunista do jornal los angeles times que vive em busca de histórias incomuns, descobre por acaso nathaniel ayers, um morador de rua tocando muito bem um violino com apenas duas cordas... na minha humilde opinião, o cineasta joe wright dirigiu um dos melhores e mais belos filmes da década, "desejo e reparação"... e você sabe né, expectativa é uma merd... assim, na comparação, o seu terceiro trabalho nos cinemas é sem dúvidas inferior... não chegando a ser decepcionante mas faltando algo... estão lá duas grandes interpretações (jamie foxx e robert downey jr. estão brilhantes), um talento inquestionável na direção e excelente acabamento técnico... então o que faltou?... talvez um pouco mais de emoção em determinadas cenas, talvez um pouco mais de foco do roteiro que tenta abraçar muitos e polêmicos assuntos ao mesmo tempo... a expectativa pode e deve ter algum tipo de influência na minha análise, talvez por isso ou não, o meu pensamento ao término da sessão era de "eu gostei, os atores estão bem, joe wright tem talento, mas faltou alguma coisa".

lua nova - de chris weitz

...um incidente na festa de aniversário de bella faz com que edward vá embora e arrasada, a jovem encontra consolo ao lado de jacob... eu não li o livro... e eu sei, eu sei... o tal livro deve ser um trilhão de vezes melhor do que isto... mas esse não é um site com comentários sobre os mais recentes lançamentos literários... é sobre cinema e ponto... e definitivamente o resultado do best-seller nos cinemas é no mínimo, desastroso... é lento, chato, meloso, (eu já falei lento?), arrastado (lento) e por vezes até mesmo um pouco irritante... a adaptação daquela garota chata divida entre o moreno lobisomem fortão e o vampiro frango branquelo é de fazer inveja ao velho manoel carlos... as falas do tipo "eu não vivo sem você", "você é a minha vida" ou "sem você eu morro" ganham contornos ainda mais constrangedores graças a trilha sonora de caixinha de música de camelô do compositor alexander desplat... é sem dúvidas, o maior sucesso comercial do ano e um dos maiores dos últimos tempos... a produção tem como marca a melhor estréia da história do cinema (!) em bilheterias, cerca de setenta milhões de dólares... mas é também forte candidato ao framboesa 2010.

2012 - de roland emmerich

...séculos atrás, os maias previram o fim do mundo para o dia 21 de dezembro de 2012... aviso: falarei sobre quase tudo neste post, inclusive sobre o fim do filme... enfim... o diretor oficial de catástrofes globais de hollywood, o alemão roland emmerich, mais uma vez entra em ação para apresentar um desfile de efeitos especiais, ondas gigantescas, destruição inacabável, patriotismo tosco, diálogos constrangedores, atuações amadoras e comédia, muita comédia... se em seus trabalhos anteriores o cineasta já não prezava muito pela lógica, aqui meu filho, chutou o balde de vez... apoiado na teoria do fim do mundo dos antigos maias, a produção é um revezamento de cenas da sociedade indo pelo ralo e de sobreviventes que encontram tempo em meio ao caos para discutir a relação... não tem como não rir... depois de mais de duas horas de uma moral americanóide estúpida, surge o final... onde somente os bilionários (exceto uma pequena cota de pobres clandestinos) e os líderes do g8 sobrevivem rumo ao único continente que restou: áfrica... é ao mesmo tempo hilário, absurdo, sofrível e inacreditável.

coco antes de chanel - de anne fontaine

...cinebiografia da estilista francesa gabrielle coco chanel... é fato que as cinebiografias francesas estão muito mais próximas do estilo hollywoodiano do que do estilo francês de fazer cinema... mas isso não é necessariamente uma coisa ruim... significa apenas que elas seguem uma fórmula pré-determinada... portanto, são pouco ousadas... previsíveis, digamos... caso de "coco antes de chanel"... tecnicamente competente (figurinos, direção de arte, cenários e ambientações impecáveis) porém, emocionalmente "morno" demais... a atriz amélie poulain, quer dizer, audrey tautou, esforça-se para dar dignidade ao papel da ousada e visionária estilista, mas não chega a apresentar uma grande atuação... e aí tudo vai ficando meio mais ou menos, sabe... todas as complicações de adaptar a vida de alguém para as telas, acabaram aqui, sobressaindo ao todo... faltou a ousadia típica de chanel.