quincas berro d'água - de sérgio machado

...inconformados com sua morte, os melhores amigos de quincas berro d'água roubam o seu corpo e o levam para uma noite inesquecível... falo logo: apesar de não ser uma rejeição 'nível paulo coelho', eu também não sou muito fã da obra do falecido imortal (?) jorge amado... e nos cinemas com a adaptação de ''a morte e a morte de quincas berro d'água'', a minha 'admiração' pelo escritor baiano não evoluiu em nada... seus habituais personagens (prostitutas, bêbados e afins), exageros narrativos (sexo, palavrões e promiscuidade) e cenários decadentes (botecos, bordéis e gafieiras), me fizeram recordar da pior fase do cinema nacional... aquele período repleto de produções que afastaram e traumatizaram o público brasileiro do seu próprio cinema, a época das chamadas pornochanchadas... nem marieta severo e nem paulo josé, foram maiores do que o trauma que todos demoraram anos para superar e que vez por outra saltam a tela de ''quincas berro d'água''... e não é que o filme seja uma bomba, mas devido as trágicas semelhanças, carrega péssimas recordações.

tudo pode dar certo - de woody allen

...um misantropo extravagante resolve abrigar em seu apartamento, a princípio por dois minutos, uma jovem ingênua vinda do sul... um elemento quase imperceptível (mas poderosíssimo) na sétima arte, é a apropriação do personagem pelo autor... é claro que esse elemento ganha muito mais sentido e alcance quando executados por aqueles celebrados diretores/autores... tarantino, almodóvar, coens e woody allen, vez por outra, falam através de seus personagens e contam até as suas histórias pessoais... no muito acima da média 'tudo pode dar certo', o protagonista vivido em grande forma pelo ator larry david, é o próprio woody allen... acredito inclusive que o diretor não quis fazer o personagem porque senão ele estaria interpretando 'ele próprio'... até os habituais personagens e as situações típicas dos filmes do diretor são respondidas pelo próprio através de sua criação: 'às vezes o clichê é a melhor maneira de se expressar'... depois de carimbar o passaporte na espanha e na inglaterra, woody allen retornou a metrópole que o consagrou, em grande estilo.

robin hood - de ridley scott

...depois de servir o exército do rei ricardo, o exímio arqueiro robin hood segue para a cidade de nottingham... o resultado da quinta parceria entre ridley scott e russell crowe é a prova de que às vezes, os artifícios cinematográficos mais simples, podem se tornar o maior trunfo de um filme... no caso o tal artifício é um utilizado exaustivamente por hollywood: contar a origem de famosos personagens, aquela velha idéia de 'a gente sabe quem é mas não sabe de onde veio'... a diferença entre os 'begins' e 'origins' da vida envolvendo wolverine, jason, freddy krueger ou sei lá quem e este sobre robin hood, está, portanto, na qualidade dos profissionais envolvidos... alguém contesta a habilidade do veterano ridley scott? e o que dizer do talento de russell crowe, cate blanchett, william hurt e max von sydow?... assim qualquer eventual clichê típico dos filmes de super-herói ou a batida idéia de contar o início ganham outros contornos... destaque também para a fotografia de john mathieson... no final da projeção ainda somos presenteados com uma espetacular animação durante os créditos finais... é, nesse longa tinha gente talentosa até nos ignorados créditos.

o mundo imaginário do dr. parnassus - de terry gilliam

...para salvar a sua filha de uma aposta com o diabo, o dr.parnassus deverá enfrentar uma série de obstáculos surreais... seria necessário um prévio afastamento emocional antes de encarar a sessão de 'o mundo imaginário do dr. parnassus'... afinal, é a despedida precoce e incompleta do ultra talentoso ator heath ledger... mas isso ao longo da exibição, revelou-se impossível... mesmo que o diretor terry gilliam tenha aproveitado todas as inventivas e infinitas possibilidades do roteiro, escalando inclusive, outros três atores para substituir o personagem de ledger (johnny depp, jude law e collin farrell, que doaram os seus cachês para a filha do ator), não tinha como não ficar buscando heath ledger a cada segundo do filme até que ele saísse para sempre de cena... para terminar a homenagem é visível que o todo sofreu profundas alterações, e com isso, o filme que termina não se parece muito com aquele que começou... ainda assim, vale destacar o esforço de toda a produção, o excelente trabalho técnico e o desempenho do numeroso elenco... acredito que a sensação ao final, independente do resultado da produção, é que quem perdeu e muito, foi o cinema.

alice no país das maravilhas - de tim burton

...alice cai em um buraco que a leva ao país das maravilhas, um local repleto de seres fantásticos e mágicos... é eu sei que o cineasta tim burton não 'acerta no ângulo' toda vez (como por exemplo em 'planeta dos macacos', um equívoco completo), mas não podemos negar que o diretor está sempre injetando algo de novo no cinema (isso fez e faz em todos os seus filmes)... no sucesso ou no fracasso, é indiscutivelmente um dos maiores e mais inventivos colaboradores da habitual mesmice hollywoodiana... e apesar de entender que no geral, seu cinema não é de fácil interpretação, o massacre que 'alice no país das maravilhas' está sofrendo por parte da crítica é bastante injusto e me parece muito mais pura perseguição... ok que não é nem de longe o melhor longa de sua ótima carreira e que o filme tem um problema aqui e ali, mas ainda assim, tem belíssimas seqüências, excelente trabalho visual e grandes interpretações (helena bonham carter está fantástica)... acredito que a maior lição do filme é que as novas tecnologias vão influenciar, mas não vão interferir no estilo inconfundível de tim burton em fazer cinema... uma coisa é se adaptar outra coisa é se vender.

homem de ferro 2 - de john favreau

...apesar da pressão do governo do usa, tony stark reluta em divulgar os segredos de sua armadura, temendo que essas informações caiam em mãos erradas... hollywood é uma indústria fantástica... primeiro ela te lança e diz que 'você é o máximo!', aí te paga milhões de dólares e chega às vezes, ao ponto de te dar um oscar... depois você é jogado para escanteio ou porque pirou e começou a dar escândalos ou porque parou de dar lucro... robert downey jr. sabe bem disso, mas sabe também que hollywood adora brincar, quando interessa, de ressuscitar... a tal 'volta por cima' faz parte do complexo jogo dessa indústria e o ótimo 'homem de ferro 2' é uma prova disso... não só pelo fantástico downey jr., mas também por mickey rourke que depois de levar uns socos está de volta a ativa e porque não, por gwyneth paltrow que ganhou um oscar em 1999 e sumiu... a bola fora da produção (fora no estilo roberto baggio) ficou por conta da atuação de scarlett johansson, ridícula como nunca... mas em hollywood, como se sabe, ela também terá a sua chance de dar a volta por cima.

a estrada - de john hillcoat

...pai e filho partem em uma jornada épica de sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico... olha, eu até gosto do elenco (viggo mortensen, robert duvall, guy pearce, charlize theron) e achei o trailer da produção bem atraente, mas o que me levou de fato ao cinema foi o nome de cormac mccarthy... quem conhece a obra do veterano escritor norte americano, sabe que seus romances são extremamente cinematográficos... argumentos sempre carregados de tensão constante e grande carga dramática, elementos que quando bem trabalhados, podem gerar um filmaço... pena que john hillcoat não é nem joel nem ethan coen, e assim, o resultado de 'a estrada' ficou muito longe de outro livro de cormac levado as telonas, 'onde os fraco não têm vez'... apesar do desempenho de viggo mortensen e a participação de um irreconhecível robert duvall já valerem o preço do ingresso... a crítica fica para a seqüencia 'viva o momento coca-cola' (até no fim do mundo?), que não combina em nada com as discussões éticas levantadas e o próprio momento retratado pela produção... e ok, lembra um pouco o recente filme 'o livro de eli', que também é muito melhor.

zona verde - de paul greengrass

...equipe do exército norte-americano busca armas de destruição em massa durante a guerra do iraque em uma tentativa de justificar o conflito... o discurso no cinema está entre os mais poderosos da comunicação... para vender, promover ou criticar uma idéia, produto ou ponto de vista, a sétima arte tem a força devastadora de uma bomba atômica... apropria-se de todos os gêneros, seus astros e em forma de puro entretenimento vende a sua mensagem... não à toa, governos e organizações utilizam esse canal freqüentemente... e de vez em quando, alguns realizadores mais corajosos vendem a crítica (por vezes conspiratória) ao fato retratado... em 'zona verde', paul greengrass formatou um filme de guerra, com apelo comercial, repleto de cenas de ação, estrelado por um grande astro, para bater pesado nas supostas motivações que causaram a guerra do iraque... sobram críticas a desastrosa invasão e aos políticos, orgãos públicos e interesses econômicos envolvidos... aparentemente simples distração, o habilidoso paul greengrass, realizou através do cinema, um dos melhores e mais críticos discursos sobre a guerra do bush jr.