2 coelhos - de afonso poyart

...o que tem de sobra no cinema nacional? violência, pobreza, corrupção e até, quem diria, espiritismo... e o que falta? iniciativa, ousadia, inovação e técnica... por isso mesmo, se eu cruzasse com o cineasta afonso poyart, iria de cara falar: ''meus parabéns!''... e eu sei que para construir o seu filme de estréia, poyart se apropriou de quase tudo que sobra no nosso cinema, mas os 'parabéns' seriam para o fato de ter feito isso com tudo aquilo que tem de falta... com referências ao universo pop, games, grafismos, música e muito mais, poyart foi aonde ninguém tinha ido até hoje no cinema brasileiro, pelo menos não com tanta qualidade... e '2 coelhos' não se contentou em ser apenas deslumbrante visualmente, o elenco (ótimo, por sinal) e o roteiro (cheio de humor, reflexão, crítica social e regado de diálogos nonsenses) receberam a mesma atenção... é a fórmula mágica do mestre quentin tarantino: aliar forma e conteúdo... o resultado é sim um passo a frente para a realização do cinema no brasil, um sopro de inovação e ousadia... 'parabéns'.

sherlock holmes o jogo de sombras - de guy ritchie

...mesmo que na prática robert downey jr. nunca tenha deixado de fazer filmes, todo mundo está cansado de saber que no final dos anos noventa ele chegou ao fundo do poço na vida pessoal e profissional (para quem não sabe, prisão, violência, posse de drogas e armas, clínicas de reabilitação, divórcio e demissões fizeram parte da rotina do ator naquela época)... mas a partir de 2003, o ator indicado duas vezes ao oscar, começou a praticar o wing chun (uma arte marcial chinesa), que o levou a ter uma vida mais saudável... se foi por isso ou não, daí para frente downey jr. passou a ser o centro das atenções de todas as produções que participa... além disso, passou a viver ninguém menos do que o homem de ferro e o sherlock holmes... e é óbvio que na continuação das aventuras do detetive mais famoso do mundo, a grande atração é: robert downey jr... 'sherlock holmes o jogo de sombras', apesar de ser um pouco inferior ao anterior, diverte e empolga graças ao talento e carisma do ator... no mais, o longa da umas derrapadinhas, mas nada assim que comprometa.

cavalo de guerra - de steven spielberg

...vocês concordam que steven spielberg está entre os maiores diretores e produtores de cinema de todos os tempos, certo? certo!... porém, acredito que a maioria (mesmo você aí que gritou 'certo!') também irá concordar que 'cavalo de guerra', é, infelizmente, lamentável e constrangedor em 99% dos seus 146 minutos de duração... principalmente porque para adaptar o livro 'war horse', que narra a história de uma amizade entre um menino e um cavalo, o vencedor de três oscars assumiu o seu lado mais manipulador, marqueteiro e medíocre possível... o resultado é tão ruim que sobrou para todo mundo... a fotografia de janusz kaminski nunca me pareceu tão artificial, a música de john williams por vezes só falta falar 'está na hora de você chorar', o roteiro de lee hall e richard curtis provavelmente foi elaborado a partir de um desses manuais de 'faça o seu roteiro em três passos' e a direção de steven spielberg é vergonhosamente didática... sem falar que o jovem protagonista jeremy irvine é muito menos expressivo que o tal do cavalo... um equívoco completo.

tudo pelo poder - de george clooney

...em 2006 todos se referiam a george clooney como 'o homem do oscar'... naquele ano, clooney, chegaria a cerimônia do prêmio com as indicações de diretor e roteiro original por 'boa noite e boa sorte', e ainda, com a de ator coadjuvante por 'syriana a indústria do petróleo', no qual mais tarde subiria ao palco para agradecer a mãe, o pai e outros... hoje, seis anos depois, 'o homem do oscar' é candidato para receber indicações nas categorias filme, diretor e roteiro adaptado, por 'tudo pelo poder', e ator com o ainda inédito 'os descendentes'... surpreendente para os que pensarem em 'plantão médico' e 'batman e robin', nem tanto para os que pensarem no grande diretor, produtor, roteirista e ator que clooney se tornou nos últimos anos... com um elenco que dispensa comentários, george clooney, traça aqui um corajoso, verdadeiro e voraz panorama da corrida presidencial made in usa... com habilidade tece a teia dos bastidores do poder, lugar onde não há espaço para inocência/vacilos... uma produção essencial para compreender a politicagem atual.

compramos um zoológico - de cameron crowe

...certa vez eu (super empolgado) falei exatamente assim para umas pessoas mais próximas: 'quando alguém te convidar para assistir um filme do cameron crowe, não pense duas vezes!'... então, mesmo que você não tenha se identificado como uma daquelas pessoas mais próximas do meu passado, eu tenho que fazer uma pequena observação: 'o tempo passa, o tempo voa e as coisas mudam né'... não que 'compramos um zoológico', seja um desastre completo... se ao final do filme tivesse aparecido nos créditos 'directed by não sei quem', seria até um filme fofo, mas acontece que a produção é dirigida por um dos mais autorais (até então) cineastas de hollywood... responsável, por exemplo, pelos excelentes 'jerry maguire a grande virada' de 1996, e por um dos filmes da minha vida, 'quase famosos' de 2000, quando levou o oscar de melhor roteiro original... por isso é decepcionante... o resultado é de um 'enlatado' sem nem um resquício do cameron crowe que eu recomendava, anteriormente, de olhos fechados... hoje em dia, recomendaria 'pensar duas vezes'.

imortais - de tarsem singh

...tem muita gente em porta de cinema chiando coisas do tipo: 'isso não era assim!', 'aquilo está fora do lugar!'... sinceramente, alguém vai assistir um filme em 3d no cinema de um shopping (!) procurando por uma aula de história?... sem falar que o tal filme é um épico grego-hollywoodiano-dirigido por um indiano... eu, ciente disso, fui assitir 'imortais' super disposto a todos os tipos de incoerências e mutilações históricas e geográficas... se teseu era originalmente um princípe ou um pobretão, como preferiu a produção, isso não me afetou em nada, mas uma coisa eu não aguentei no longa (ah vai, eu já estava tolerante demais), o nível de atuação c - do elenco sarado e bronzeado... com exceção de um inspirado mickey rourke, henry cavill comprometeu como protagonista e a turma do olimpo me fez acreditar que qualquer um pode ser ator... e aí, toda a parte ok do filme, como os figurinos de eiko ishioka (vencedora do oscar por 'drácula de bram stoker'), empolgantes sequências de ação e, mais uma vez, a atuação de mickey rourke, foi visivelmente prejudicada.

missão impossível protocolo fantasma - de brad bird

...como a principal exigência de tom cruise para a realização de um filme da série que produz e protagoniza é o rodízio de diretores, a bem sucedida franquia de 'missão impossível' (que já soma quase 2 bilhões de doláres em bilheterias), chega a marca de quatro filmes com quatro diretores diferentes... e o legal é que apesar de existir uma ligação mínima entre os capítulos, todos apresentam características que os tornam bem diferentes... o primeiro capítulo de 1996, carregava o ar autoral de brian de palma... o segundo de 2000, a ação espalhafatosa de john woo... o terceiro de 2006, a orquestrada tensão de j.j. abrams... e o quarto o humor de brad bird... isso não significa que o diretor de 'os incríveis' e 'ratatouille' tenha deixado de lado toda a ação da franquia... 'missão impossível protocolo fantasma', é cheio de momentos 'ufa!', como a vertiginosa sequência no burj khalifa em dubai... o que eu não entendi foi a atuação do ator michael nyqvist, que parece ter gravado o recente 'sem saída' e o longa em questão, sem saber que eram produções diferentes.

roubo nas alturas - de brett ratner

...qual é a fórmula para transformar um projeto totalmente despretensioso em um filme, digamos, relevante?... pergunte para o diretor brett ratner, que soube associar ação, humor e crítica social na medida certa e no tom exato... com o suporte de um elenco em forma (ben stiller, eddie murphy, alan alda, matthew broderick, casey affleck, michael peña, gabourey sidibe, téa leoni, judd hirsch, todos ótimos) o diretor da trilogia 'a hora do rush', fez ação surpreendente na sequência do assalto na torre, se garantiu no humor fácil de ben stiller e eddie murphy, e ainda deu uma cutucada na recente farra dos engravatados de wall street que deixou o pobre ainda mais pobre... mas brett ratner não veste a camisa do 'occuppy wall street', obviamente, não era esse o objetivo... nem descamba para o besteirol... muito menos para a ação desenfreada que descaracterizaria o projeto por completo... até o desfecho (super!) previsível parece se encaixar perfeitamente ao resultado... foi como eu escrevi anteriormente: na medida certa e no tom exato.