...o que é o mais importante em um filme? a direção, o elenco, o roteiro ou a técnica?... a prova de que o ideal é o equilíbrio entre tudo isso que eu falei e mais um pouco é o longa 'j.edgar'... de que adiantou ter clint eastwood na direção (para mim um dos maiores cineastas de todos os tempos), um elenco de prestígio liderado por ninguém menos do que leonardo di caprio (o melhor ator de sua geração), um roteiro assinado por dustin lance black (uma promessa premiado com o oscar de melhor roteiro original por 'milk a voz da igualdade') e uma direção de arte bem bacana (que reconstrói a época com grande competência), se o patético trabalho de maquiagem tornou o filme (quase) risível?... sério mesmo, quem achou que estava bom?... porque por mais recursos que leonardo di caprio dispõe como ator, eu não consegui acreditar em nenhum momento do seu personagem quando este já estava mais velho... e a maquiagem no ator armie hammer? é melhor deixar para lá... como um bom filme se faz nos detalhes, nem é preciso falar que o resultado ficou longe do ideal.
...vou fazer minhas as palavras de um famoso crítico de cinema: 'meryl streep sempre esteve bem, mas desta vez ela humilhou! as outras concorrentes não tem nem chance'... gente, sem exageros, é isso mesmo... vamos lá: ao longo da carreira meryl streep já foi indicada 17 vezes ao oscar (recordista entre atores e atrizes), venceu duas, fora outras 25 indicações ao globo de ouro, venceu oito, ou seja, sempre esteve bem... e apesar de desempenhos memoráveis em dezenas de filmes como 'a escolha de sofia', 'as pontes de madison', 'kramer vs. kramer', entre muitos outros, desta vez, a atriz não deixou dúvidas de sua capacidade (mas alguém tinha alguma?)... na pele de margaret thatcher, em 'a dama de ferro', me arrisco a dizer que meryl streep apresentou a melhor atuação de sua inquestionável carreira, ou seja, humilhou... se justiça for feita na cerimônia do dia 26 de fevereiro, viola davis, michelle williams, rooney mara e glenn close, vão ter que fazer 'carão', quando meryl, aos sessenta e dois anos, subir ao palco para receber a estatueta por mais uma vez.
...como uma produção francesa, sem som e em preto e branco (!), se tornou a sensação da temporada de prêmios faturando três globos de ouro, sete baftas, o prêmio do sindicato dos produtores, quatro prêmios no critics choice awards e de quebra, dez indicações ao oscar 2012?... gente, sem teorizar muito, o filme é bom e ponto... mas vocês querem uma teoria para esse sucesso? então, 'o artista', vem conquistando tudo e mais um pouco porque é uma das mais belas homenagens que me recordo de já ter visto em uma sala de cinema, para ninguém menos do que o próprio cinema... para retratar as mudanças provocadas na indústria cinematográfica com o advento do som (tema abordado também em 'crepúsculo dos deuses' e 'cantando na chuva'), o diretor michel hazanavicius, teve a excepcional oportunidade de contar com o desempenho reluzante do ator jean dujardin (premiado no bafta, globo de ouro, sindicato dos atores, festival de cannes e favorito ao oscar)... a produção é a prova de que a magia do cinema independe (!) de qualquer estardalhaço tecnológico.
...o mundo como conhecemos (ou conhecíamos?) está em estado de ebulição... manifestações no oriente médio e no norte da áfrica (a onda revolucionária da 'primavera árabe'), guerra civil em diversos países e protestos que alertam para a iminente queda do sistema capitalista evidenciada pela crise nas economias do chamado 'primeiro mundo' (movimento simbolizado pelo 'occupy wall street')... por insatisfação e vontade de mudança, cada um reage como quer ou como pode?... no filme do cinesta romeno radu mihaileanu (dos inesquecíveis 'trem da vida' e 'o concerto'), um grupo de mulheres insatisfeitas lideram uma greve de sexo contra os seus homens escorados em tradições políticas, sociais e até religiosas... cada um reage como pode... o fascinante é a maneira como a produção multinacional baseada na comédia grega 'lisístrata' de aristófanes, se apresenta em uma espécie de fábula musical revolucionária... o resultado é verdadeiro, poético, emocionante, trágico, belo e repleto de esperança (!)... é o cinema em sua mais bela forma... é de arrepiar.
...eu sei que nós acabamos de falar sobre uma injustiça, mas vamos ser justos: entre o mar de esquecimentos e equívocos cometidos habitualmente pela academia há uma grande justiça no oscar 2012... já sabem qual é?... ao contrário do que fez o globo de ouro, o sindicato dos atores e alguns outros prêmios por aí, o oscar dessa vez não fez que não viu e indicou, com um extremo merecimento, o ator gary oldman... e é uma indicação que vai muito além de 'o espião que sabia demais'... está sendo reconhecido a carreira de um dos mais versáteis e talentosos atores do cinema... só para se ter uma idéia, gary oldman já viveu sid vicious, ludwig van beethoven e o conde drácula... pois é minha gente, e no filme em questão é o ator que lidera, com o talento de sempre, o meticuloso e imperdível longa do diretor sueco tomas alfredson (do já cult 'deixa ela entrar' de 2008)... a injustiça (é claro que tem uma!), ficou por conta da ausência da produção entre os indicados ao oscar de melhor filme... pelo menos aqui no blog, dificilmente ficará fora do top 10 de 2012.
...vamos começar a falar das injustiças do oscar 2012?... claro que não vou abordar todas ainda, como sempre são muitas, neste momento vou falar apenas da que considero, até agora, a maior delas... como diabos foi possível elaborar a lista das indicadas a melhor atriz este ano sem constar o nome de tilda swinton?... apesar do alto nível de performance das concorrentes, o nome da vencedora do oscar de melhor atriz coadjuvante em 2008 por 'conduta de risco', tinha que estar lá (!)... tilda swinton que já tinha brilhado no ano passado com o apaixonante drama italiano 'um sonho de amor' (que também foi ignorado pela academia, sendo lembrado apenas na categoria 'melhor figurino'), desta vez elevou o seu talento a milésima potência... o desempenho de tilda swinton em 'precisamos falar sobre o kevin', é avassalador... graças também as escolhas da diretora lynne ramsay, que para adaptar a obra da escritora lionel shriver, optou por uma estrutura em recortes fundamental para a composição da personagem... o longa denunciado nos detalhes é desconcertante (!).
...a história do racismo na década de sessenta nos eua foi dura, violenta, revoltante e vergonhosa... mas quem disse que esse período não pode ser retratado no cinema com extrema leveza, simplicidade e até um certo bom humor?... pelo menos foi assim que fez o mais-ator-do-que-diretor tate taylor... e pelo visto, agradou né?... além de ter permanecido em primeiro lugar nas bilheterias norte-americanas por três semanas consecutivas, a produção ainda foi indicada a quase todos os prêmios da temporada, entre eles, o oscar... e o que eu achei do longa? uma dramédia cheia de boas intenções e grandes atuações (apesar da badalação em torno de viola davis e octavia spencer, o elenco todo está impecável) mas que escolhe permanecer no raso na maior parte do tempo... e eu acredito que em alguns momentos um mergulho mais profundo traria sim mais impacto a determinadas seqüências e talvez por isso o filme não tenha me deixado plenamente convencido... enfim, o resultado até arranca uma ou outra lágrima e provoca reflexões, porém, sem ser muito depressivo ou complexo.
...para quem não sabe eu detestei 'a rede social'... é eu sei que a produção fez um puta sucesso, ganhou um montão de prêmios e quase todo mundo gostou, mas eu achei uma chatice... o triste é que se tratava de um filme do david fincher, que eu sempre admirei muito... e aí eu fiquei naquela dúvida: será que existe vida além do 'face'?... o espetacular 'millennium os homens que não amavam as mulheres', foi a melhor resposta possível... desde a sombria abertura ao som de 'immigrant song', clássico do led zeppelin, na voz de karen-o (por sinal, a trilha sonora da dupla atticus ross e trent reznor é de comprar o cd), o diretor de 'seven', 'clube da luta', 'zodíaco' e outros, deixou claro que dessa vez era para valer... e foi mesmo... simplesmente não há o que criticar na adapatação do best-seller 'millennium', que já tinha originado uma versão 'made in sweden' para os cinemas (super competente também)... toda a parte técnica é primorosa, o elenco está em grande forma (o que falar de rooney mara?) e david fincher conduz os 158 minutos do filme com maestria.
...não, eu não vou falar do george clooney... vamos falar um pouquinho sobre o alexander constantine papadopoulos, ou simplesmente, alexander payne... com filmes que ora cambaleiam para a comédia, ora para o drama e sempre com narrativas bem pausadas e reflexivas, alexander payne conquistou o público, a crítica e a academia dirigindo, produzindo e escrevendo trabalhos bem particulares... a prova é de que mesmo com poucos longas no currículo já soma seis indicações ao oscar, sagrando-se vencedor uma vez na categoria roteiro adaptado por 'sideways entre umas e outras'... em 'os descendentes', payne não inventou e ou inovou, fez mais um filme com todas as suas marcas registradas e ainda assim recebeu três indicações ao oscar: filme, diretor e roteiro adaptado... a explicação? a simplicidade com que o diretor aborda os temas de fácil identificação com emoção e bom humor... sem falar que aqui ele contou com um inspirado george clooney (acabei falando nele) e com a jovem shailene woodley... e a trilha sonora ainda é ótima... o resultado é irresistível.
...existe algo mais egoísta do que o preconceito, a intolerância e a violência diante de um determinado tipo de comportamento? acredito que não... mas você já parou para pensar que talvez sejam esses os motivos que levem uma pessoa a viver uma vida de mentira?... não com o medo de ser o que se é de fato, mas com o medo de não ser o que a sociedade quer que você seja... em 'tomboy', não foi diferente e a solução encontrada por alguém de apenas dez anos, diante de uma sociedade contaminada por todas as formas de preconceito, foi viver uma dessas mentiras... para os novos amigos, laure se apresentou como mickael... assim, brincou, jogou bola, nadou, arranjou uma namoradinha e, principalmente, foi feliz e se viu livre de todos os julgamentos (até que a mentira veio à tona e todos reagiram como o de costume)... protagonizado de forma brilhante por zoé héran, o longa demonstra de maneira singela que as pessoas são o que são e ponto... mas enfim, é provável que a nossa sociedade egoísta e hipócrita nunca aceite isso né?!... mas fica a mensagem.